Julho
Boletim da FAEB
Ilustração de Wolney Fernandes, 2018.
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ASSOCIE-SE
Julho, mês de férias. Quem sabe sair de viagem e, além de praia, piscina, caminhadas ou rede, ir a um museu ou a algum outro espaço de arte? No Brasil, ultimamente, este tem sido um exercício temerário com muitos casos de exposições censuradas. Este é um dos temas do nosso boletim de julho em dois momentos: a entrevista com a professora Juliana Gouthier (EBA-UFMG), realizada pelas arte educadoras Ana del Tabor (UFPA) e Nélia Fonseca (SEDUCE-PA), que discutem esse tema e nos perguntam: Arte e censura – o que a educação tem a ver com isso? Sobre o mesmo assunto, a professora Luciana Borre, da Universidade Federal de Pernambuco, apresenta o relato de uma experiência pedagógica na pós-graduação em Artes Visuais, que resultou na exposição Tramações, já em sua segunda edição. Esta exposição foi alvo de muitos ataques e a professora Luciana nos convida a indagar os seus motivos. Como de costume, nosso boletim começa com uma nota sobre o Confaeb 2018. Dessa vez, explicamos como as comunicações aprovadas serão organizadas dentro do evento em rodas de conversas temáticas. Confira, mande seu trabalho e venha conversar conosco em novembro! Depois de termos, nos meses anteriores, dois ensaios com a linguagem fotográfica, o ensaio visual deste mês ficou a cargo do professor Wolney Fernandes Oliveira, da Universidade Federal de Goiás, que utilizou a técnica da colagem analógica em diálogo com o tema Arte e censura. Na seção Diálogos Internacionais temos a entrevista da professora Apolline Torregrosa Laborie, da Universidade de Genebra, que esteve no Brasil no Confaeb de 2013, realizado pela professora Vitória Amaral, em Porto de Galinhas. Apolline nos fala sobre sua formação e experiência com ensino e aprendizagem da arte e como o acompanhamento da pessoa em seu desenvolvimento pessoal e social torna-se o fio das suas pesquisas. No final, no Mural da FAEB, notícias de eventos que acontecerão em vários lugares do país. Um deles pode estar perto de você. Esperamos que esse boletim do mês de julho não dê férias para o nosso estado de alerta, onde arte, educação e cultura necessitam de exercícios de liberdade para continuarmos existindo em estado de indagação contínua. Dr.ª Leda Guimarães Presidente da FAEB
editorial
Boletim da FAEB Ano 1 | Número 4 | Julho de 2018
De 6 a 9 de novembro
confaeb 2018 brasília - DF
No Confaeb 2018 vai ter ...??? Rodas de Conversa! Nos últimos Confaeb temos seguido o modo convencional de apresentação dos trabalhos aprovados para comunicação oral. Neste, vamos retomar a proposta das “Rodas de Conversa” do Confaeb de 2009, realizado em Belo Horizonte, na UFMG, pela professora Lúcia Pimentel. As diversas comunicações aprovadas serão organizadas em “rodas de conversas temáticas” em espaços de discussão aberta sob a coordenação de dois debatedores para cada roda. Ou seja, não ficaremos isolados em sala com pequenos grupos nos quais praticamente estão presentes as pessoas que irão apresentar naquela sessão. Ao contrário, nossas pesquisas e experiências pedagógicas estarão reunidas sob um determinado tema conectado aos GTs para os quais os trabalhos serão enviados: FUNDAMENTOS DA ARTE/EDUCAÇÃO; POÉTICAS E ESTÉTICAS EM ARTE/EDUCAÇÃO; HISTÓRIAS E MEMÓRIAS; FORMAÇÃO DE PROFESSORES(AS); POLÍTICAS PÚBLICAS NA/PARA A ARTE/EDUCAÇÃO e ENSINO DA ARTE E TECNOLOGIAS. Todos os trabalhos aprovados serão publicados nos anais. Cada roda terá dois coordenadores encarregados de deflagrar debates em torno dos assuntos, por exemplo: Caminhos, ações e resistências políticas no ensino de arte; espaços de formação docente continuada; processos de pesquisa em arte educação; reflexões sobre experiências do ensino de arte em espaços formais e não formais; reflexões sobre conexões entre formação e políticas educacionais; pesquisas sobre luta e resistência pelo Ensino de Arte no Brasil; movimentos de ensino de arte e descolonialidade e muitos outros temas que, com certeza, chegarão para alimentar nossas discussões. As rodas serão um espaço de conversas antenadas, críticas e propositivas, das quais espera-se, ao final, um apanhado crítico dos muitos assuntos ali tratados, a ser encaminhado para o encerramento do evento, no dia 9 de novembro. Envie o seu trabalho! Estamos te esperando para animar a roda!
Arte e censura O que a educação tem a ver com isso?
Essa entrevista resultou da participação da professora Juliana Gouthier no Movimento Rumos da Arte e seu Ensino no Estado do Pará, no dia 11 de maio de 2018, realizada no auditório do atelier de artes da UFPA, Campus do Guamá, sob a coordenação das professoras Ana Del Tabor, Nélia Fonseca e Miriam Pinho, com o apoio do curso de Artes Visuais da UFPA (turma de Estágio em Ensino das Artes Visuais da Profª Mestra Brisa Nunes). 1 O que você pensa da censura que a arte tem sofrido em alguns contextos, como no caso do fechamento da mostra “Queermuseu” no espaço Santander de Cultura? A censura é sempre ruim, independentemente de contextos. É a imposição de algo, a anulação do diálogo e da diversidade e liberdade de ideias, expressões, opiniões... E, claro, a censura, em qualquer modelo e formato, fere profundamente a arte em sua potência, que se relaciona com nossa capacidade de reinventar o mundo, questionar “verdades” e propor diferentes modos de viver. As questões que incomodam são questões nossas, humanas, éticas, sociais, morais, econômicas, enfim, desafios da vida contemporânea que a arte simplesmente aborda, discute, traz à tona. A arte expõe, traz à tona, questões contemporâneas, debates necessários, muitas vezes apagados. Precisamos sim, amadurecer nossa capacidade de diálogo, de escuta, de argumentação, enfim de pensar mais profundamente em muitas questões do mundo contemporâneo e a arte, em suas diferentes expressões, é fundamental nesse processo. Isso tudo ficou muito claro em Porto Alegre, no caso do exposição Queermuseu - Cartografias da Diferença na Arte Brasileira, cancelada após quase um mês da abertura, depois de uma onda de protestos virtuais. O argumento de que “algumas das obras promoviam blasfêmia contra símbolos religiosos e também apologia à zoofilia e pedofilia”, como noticiou a imprensa nacional e internacional, é atribuir à arte questões que não são especificamente dela, mas do nosso dia a dia e que os artistas as enfrentam, evidenciando a necessidade de discuti-las, assumindo as suas controvérsias. Um exemplo muito claro dessa relação foi posta pelo crítico Moacir dos Anjos, em um seminário em Belo Horizonte, quando ele trouxe os dados de que o fato de uma criança, com indícios de que houve o consentimento dos seus pais, ter passado a noite em uma cela com um homem acusado de estupro, provocou menos do que 10% de reações nas redes sociais do que a exposição de Porto Alegre. Fica assim a questão: Isso nos indignaria se tivesse sido uma ‘criação’ de um artista? A reboque podemos trazer várias questões sobre a violência, como por exemplo o fato de professoras da educação infantil de Belo Horizonte terem sido atacadas com gás lacrimogênio e jatos de água em uma manifestação. A imagem registrada por um fotógrafo é o que deve nos indignar ou o fato em si? Esses exemplos são de fatos concretos, mas no caso da exposição Queermuseu, como outras que sucederam como a performance do MAM, em São Paulo, a partir da obra de Lygia Clark, e a exposição do artista Pedro Moraleida, no Palácio das Artes, em Belo Horizonte, o que aconteceu foi uma interpretação, ao meu ver, distorcida, das obras, colando-as a um discurso moralista e rasteiro, sem qualquer fundamento ou amparo em relação à arte ou às produções artísticas. Em síntese, a arte virou qualquer coisa ilustrativa para mais uma avalanche do que virou de fato um desafio para quem frequenta as redes sociais, as fake news. A dimensão e a direção ‘aleatória’ que elas estão tomando só pode ser derrubada com uma educação de qualidade, que nos possibilite a todos o que Paulo Freire tanto defendeu, uma “leitura crítica do mundo”. 2 Você já teve problemas com censura no seu trabalho seja como artista ou como professora do curso de Arte e de Educação na Universidade? Tive uma experiência recente que, no primeiro momento, me assustou muito. Em um trabalho sobre artistas do Neoconcretismo, envolvendo alunos da pedagogia, houve uma apresentação em que o grupo que trabalhou com a obra de Lygia Clark, escolheu trazer para a apresentação a questão da censura, com dois corpos nus. Foi um trabalho que me surpreendeu pelo cuidado – ético e estético – e maturidade do grupo. E, como eram estudantes lidando pela primeira vez com a questão, poderia, inclusive, ter sido algo mais grosseiro e pouco elaborado, o que não tiraria o mérito do trabalho. Mas, ainda que tenha sido maduro e absolutamente afinado com as proposições da artista pesquisada, recebi, através do colegiado a reclamação de uma pessoa da turma, falando sobre o trabalho e questionando o fato de eu ter aprovado a apresentação e que, por isso, estaria passível de ser enquadrada no código penal, artigo 233, por ter, nas palavras da mensagem, “o qual dispõe como ato obsceno, a prática de obscenidade em lugar público ou aberto ou exposto ao público, como no caso ocorrido”. Além disso, a mensagem também trazia a afirmativa que o que se apresentava não seria arte. Eu como professora de Arte, digo exatamente o contrário e que foi um dos trabalhos mais significativos que vivenciei na minha trajetória como professora. Bom, mas se no primeiro momento fiquei assustada com a dimensão da reação, conseguimos, eu e a turma, avançar nas discussões e estabelecer um diálogo respeitoso, ainda que demonstrando nossa indignação à tentativa de cerceamento. Isso foi extremamente precioso para mim e, acho, para todo o grupo. Ainda houve quem, ao final de toda a conversa, dissesse que eu deveria garantir que aquilo nunca mais aconteceria nas aulas. Não só recusei qualquer tipo de restrição aos trabalhos propostos, como disse que gostaria que sempre houvesse ações – independentemente do tema – que nos provocassem a pensar e a amadurecer nossa relação com o mundo e, claro, com a arte. No final das contas foi um ganho coletivo muito significativo, no sentido de aprendermos a respeitar as diferentes opiniões e entender a importância do conhecimento na construção dos nossos argumentos e na nossa relação com a arte. Agora, na aula seguinte, me surpreendi ao me sentir acuada, com a sensação de minhas falas estarem sendo gravadas. Fiz questão de compartilhar com os alunos a ideia do medo, do respeito e da ética, lembrando que não havia autorizado ninguém a gravar as nossas aulas e que como temos que cuidar para não virarmos reféns de um medo inventado a partir de ameaças inconsistentes – muitas vezes geradas na ignorância em relação à arte – e na importância da nossa formação e seriedade como educadores e educadoras. E sobre o medo, sempre me lembro de uma conferência proferida pelo poeta moçambicano Mia Couto sobre o tema em que ele fala do medo como estratégia para justificar ações de controle social, de censura, a fim de se evitar importantes questionamentos – advindos da necessária indignação acerca das “violências silenciadas”. Ele cita vários exemplos e termina a fala lembrando que “em todo o mundo uma em cada três mulheres, foi ou será, vítima de violência física ou sexual durante o seu tempo de vida. É verdade que sobre uma grande parte do nosso planeta pesa uma condenação antecipada pelo facto simples de serem mulheres”. E aí, lembra o quanto é importante que a nossa indignação seja maior do que o medo. 3 Recentemente o trabalho da capa do quadrinho “Castanha do Pará” de autoria de Gidalti de Oliveira Moura Júnior e que inclusive ganhou o prêmio Jabuti foi retirada de uma exposição no Shopping em Belém, o que você pensa sobre essa situação? É a mesma história... Acho que temos também que aproveitar essas situações para pensarmos, problematizarmos e não deixarmos de discutir essa relação da arte com os espaços expositivos. Nos casos do MAM de São Paulo e do Palácio das Artes, em Belo Horizonte, como se tratam de espaços públicos, a resistência ganhou mais eco. No caso de Porto Alegre, um espaço cultural de um banco privado, e no do artista Gidalti de Oliveira, um shopping. Ou seja, nos espaços privados, a vulnerabilidade do artista é maior. Apesar do discurso dos gestores desses espaços, permeados de palavras chaves como conversa, respeito e diálogo, ou outras expressões que tentam adocicar, na tentativa de tornar mais palatável ou disfarçar um cerceamento de expressão de um artista, o que houve foi, de fato, uma censura e isso é inadmissível. Ainda que muitos desses centros culturais sejam indiretamente mantidos pelo dinheiro público, através de leis de incentivos, são, paradoxalmente, administrados como bens privados, dessa ou daquela empresa. Acho importante lembrar aqui a última bienal do Mercosul, encerrada no início de junho. Diferentemente das edições anteriores, o único espaço em que não se podia fotografar as obras era o do Santander Cultural. No mesmo evento, a título de ilustração para pensarmos um pouco, três fatos, me parece que registrados apenas pela imprensa de Porto Alegre, não tiveram quase nenhuma repercussão. O primeiro foi o protesto na abertura, lembrando o encerramento antecipado da mostra Queermuseu, o segundo, o fato de a obra Maldicidade (2014), com 22 fotos, do artista espanhol Miguel Rio Branco, ter sido transferida de lugar de última hora, sob um pretexto qualquer, que não me lembro agora, mas frágeis diante do fato de as imagens do artista serem vulneráveis aos mesmos ataques inconsistentes à exposição fechada pelo banco, já que tem imagens como a de dois cães cruzando e a de um pênis de borracha, dentre outras. O terceiro foi o desaparecimento ou o‘escondimento’ de uma foto da vereadora e ativista assassinada, Marielle Franco, que integrava a instalação Non Orientable (2018), do artista ganês Ibrahim Mahama. Depois da abertura, ninguém mais viu a imagem... Agora, toda essa discussão também tem a ver com a sustentabilidade da arte. Se artistas e pessoas que apoiam de fato a arte como expressão livre ameaçassem tirar seu dinheiro das contas do banco, como no caso do Queermuseu, será que faria diferença? Isso também não deixa de nos provocar a pensarmos mais sobre quem financia a arte. É sempre bom não deixarmos de prestar a atenção em quem escolhe obras e artistas, quem legitima o que é arte e qual arte que vem sendo legitimada nesses confrontos. Penso que nós, artistas, temos que ter clareza desse tabuleiro para podermos agir conscientemente e pensando em estratégias para não sucumbir aos mandos e desmandos desse ou daquele grupo, desse ou daquele interesse. Mas, se em Belém tivemos essa retaliação, temos também, como contraponto, uma artista que há muito vem discutindo questões políticas com uma força incrível, que é a Berna Reale. Aquele trabalho, Rosa Púrpura, com mulheres vestidas como colegiais, com saias cor de rosa e com a boca de uma boneca inflável é um enfrentamento poético que não podemos perder de vista. Só falta alguém dizer que a artista está incitando a violência contra a mulher... E o pior não é quem vai dizer, porque quem levanta essas questões não faz por acaso, não tem nada de ignorante. O desafio está no tanto de gente que, sem pensar, começa a repetir o refrão em nome de uma moralidade perdida... 4 Como podemos combater a censura na Arte? O pior desse processo de cerceamento é essa onda que vai se formando e que em nome de qualquer bandeira moralista vai ganhando força pela ignorância, no sentido de não conhecer mesmo. Quando, como agora, a arte virou assunto de toda esquina, de qualquer roda de conversa, fica evidente o quanto ainda precisamos da sua presença nos processos educativos, de como a presença da arte faz falta para a formação de uma consciência crítica. Não é por acaso que estamos vivenciando retrocessos, tentativas de tirar a arte das escolas, sonegá-la ainda mais à maioria das pessoas. Sem acesso ao conhecimento à arte, ficamos cada vez mais à mercê dos encaminhamentos da mídia, e dos dominós de opiniões quase surreais que vão assolando as redes sociais. A discussão só vai amadurecer de verdade se se ampliar o acesso à arte como conhecimento, como um campo, tão importante quanto os demais, de ver e de estar no mundo. Nos casos de censura – ainda que a palavra seja negada de joelhos por quem a executa – ao se fechar uma exposição ou retirar uma obra de uma mostra, há, no final das contas, a retirada de uma possibilidade de discussão, de discussões catalisadas pelas obras, pelos impactos que nos provocam. E essas questões abordadas por artistas são fundamentais de serem discutidas para conhecermos melhor a nossa condição, nos religarmos com a nossa humanidade – que inclui muitas mazelas. Com isso, ficamos menos reféns dos pré-conceitos que só nos fazem retroceder. Então, o que, por exemplo, podemos aproveitar dessas ações coercitivas que se multiplicam pelo país afora? Entendo que é hora de levar a discussão para dentro da escola, problematizar com os estudantes, tentando construir ações de fato dialógicas. Sem escutá-los, sem legitimar o seu ponto de vista – que é bem diferente de concordar – dificilmente vamos conseguir driblar a censura e aproximar a arte e suas questões da grande maioria das pessoas, que se sentem, por um lado, alijadas, fora do eixo dos ‘bem dotados’ que entendem ou fazem arte ou, por outro, ‘normais’ o suficiente para não sucumbir às ‘destemperanças’ dos artistas. A experiência com e em arte é imprescindível e cria condições para uma aproximação com a arte e toda a sua complexidade. 5 O professor de Arte vem sendo preparado para debater a censura em arte na escola e universidade? Esta é uma pergunta que me fiz recentemente, diante desse quadro de censura às artes que estamos vivendo. Alguns movimentos conservadores, que já estavam atuando em diferentes frentes para censurar os/as professores/as, com foco em questões fundamentais como do gênero e do racismo, por exemplo, desencadearam, tanto na universidade quanto em algumas escolas, a discussão do cerceamento à liberdade de expressão na docência. Então, ainda que não tivessem começado as ações de censura à arte, a discussão se mostrou urgente. Uma discussão que não conseguíamos imaginar, há uns três anos, que seria possível estar em pauta novamente. À medida em aumentaram as tentativas de se controlar o que se passava em sala de aula, ficou claro que era ali, na sala de aula que este debate tinha que ganhar corpo, seja na escola ou na universidade. Por quê? Porque não dava para ignorar a pressão e deixar que o medo nos dominasse. Nesses processos, o caminho possível é o de conversar, problematizar, buscar esclarecimentos para podermos entender, coletivamente, o que está acontecendo. Isso, com um detalhe importante, que é o de provocar nessa geração o interesse em conhecer com a maior profundidade possível o que foi o regime militar, o que significou a repressão e a censura para a vida de cada brasileiro e de cada brasileira e como isso ainda reflete nos dias atuais. Essa noção histórica é fundamental para possibilitar uma maior proximidade com o que de fato significa esse discurso de controle, da falta de liberdade de expressão. Quando, em 2014, o golpe militar fez 50 anos, por exemplo, percebi que a grande maioria dos estudantes não conseguia ter clareza do que havia sido esse momento para a cultura, para as artes em geral. Também é importante que saibam como estavam as artes e a educação antes do golpe de 1964, ou seja, não foi por acaso que usaram a violência, a repressão, o medo. Agora, estávamos também num processo de conquistas muito significativas e, não por acaso, aparecem forças autoritárias querendo apagar, reduzir, enfim, nos amedrontar e querer nos dizer o que pode e o que não pode. Quando vocês perguntam se o professor de Arte vem sendo preparado para debater a censura, eu, sinceramente, penso que estamos sendo provocados, intimados mesmo, a criar estratégias para enfrentar a censura, e não nos curvarmos a ela, investirmos no conhecimento, no exercício da arte, em todas as suas expressões. Outra opção seria a de entregar os pontos, desistir da educação, a meu ver, a trincheira mais importante e potente contra qualquer censura. Temos como ‘arma’ o investimento em uma educação que valorize o diálogo, a autonomia e a consciência crítica, como nos ensina Paulo Freire, também não por acaso, alvo de tantos ataques. Qualquer tipo de censura precisa ser denunciada e discutida, em sala de aula não podemos varrer essas questões para debaixo do tapete. É enfrentando coletivamente que conseguiremos nos preparar, cotidianamente, para não aceitar os cerceamentos, ou seja, nos educando mutuamente. Recentemente, tivemos dois exemplosde censura às artes em universidades . O primeiro, com a exposição Tramações[1], na Universidade Federal de Pernambuco, discentes sofreram diversos tipos de ameaças e tentativa de encerramento da mostra, sob alegação de que feriam princípios e símbolos do cristianismo. Houve resistência e a mostra se manteve. Na Universidade Federal de Minas Gerais, na Escola de Belas Artes, na mostra Corparte, o trabalho de uma estudante, com imagens de corpos de mulheres negras, teria incomodado algumas pessoas que teriam exigido que fossem expostos encobertos, ainda que não tivessem qualquer conotação sexual que indicasse restrição de faixa etária. Também houve resistência e continuaram expostos sem cobertura. São sintomas muito tristes do que estamos vivendo, da censura às Artes rondando os espaços de formação artística das universidades. E isso não pode ser ignorado e a indignação é um dos caminhos para nos preparamos para os necessários enfrentamentos. São nestes, na instauração do necessário debate e na intransigência em relação a qualquer tentativa de cerceamento à liberdade de expressão que vamos amadurecendo nossas formas de lidar com esses impedimentos, que, espero, estejam com seus dias contados. Voltamos às mesmas questões do início da conversa. O corpo da mulher negra ao ser apresentado como como objeto não incomoda, está em toda parte. Mas, quando carrega uma denúncia, chama-se a atenção ao pudor e aos bons costumes... As coisas não se encaixam... E é nesse descompasso que temos que estar atentos para o quanto faz falta a formação em Arte e porque, novamente, não por acaso, estamos vivenciando pressões para sua redução em diferentes contextos. A despeito de avanços importantes, ainda há um enorme fosso entre os que “são e os que não são” autorizados a produzir, fazer, pensar Arte. Um fosso que também incomoda muito e que nos ajuda a entender essas reações descabidas em relação à Arte. Entender, mas não aceitar.
Desenho de Alexandre Guimarães, 2018.
Entrevista com Dr.ª Juliana Gouthier Macedo Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG Por: Ana Del Tabor e Nélia Fonseca
Boletim da FAEB Ano 1 | Número 4 | Juho de 2018
Entrevista com Prof.ª Dr.ª Apolline Torregrosa Laborie SP: Pode nos falar de sua formação e experiência com ensino e aprendizagem da arte? AT: Podemos dizer que minha jornada em educação artística começa na educação secundária, na França para uma educação superior no Uruguai, na Faculdade de Belas Artes. Nesta passagem, eu vivo e entendo a importância e a influência dos modos de aprendizagem em nossa jornada na educação, onde o acompanhamento ou não, torna-se substancial no desdobramento pessoal. Na França, particularmente a aprendizagem vertical é priorizada, enquanto o Uruguai é voltado para a compreensão experiencial de cada um, ligado às transformações sociais. A partir desta distinção, o acompanhamento da pessoa em seu desenvolvimento pessoal e social torna-se o fio das minhas pesquisas. Na minha formação de doutorado em Educação Artística na Universidade de Barcelona, e em Sociologia Compreensiva ou Imaginária na Universidade Paris Descartes, minhas principais questões se movem em torno da pessoa no centro das decisões de seu processo de formação, sem ter que seguir um caminho imposto por políticas educacionais ou prioridades curriculares. Nesse sentido, a arte, desde uma dimensão experiencial, nos convida a entrar em um processo único que inclui experiências pessoais. Atualmente, estou no Departamento de Didática de Arte e Movimento, Faculdade de Ciências da Educação, na Universidade de Genebra, onde continuo no centro dessas questões, incorporando a formação de professores para o ensino primário; onde é necessário constantemente perguntar a si mesmo qual é o lugar das artes na formação completa da pessoa. Lugar onde é possível favorecer um pensamento criativo de aprender fora de uma domesticação da pessoa, ou um pensamento conformista que tende a estruturar a educação atual. SP: Até pouco tempo você trabalhou na Université Paris Decartes V, qual é a visão de ensino e aprendizagem da arte neste contexto francês de formação? A peculiaridade da França é que ela se aprofunda em certos campos de uma maneira muito pertinente, como em Arte, Sociologia e Educação, mas omitindo um pensamento interdisciplinar. Nesse contexto, algumas formações tentam introduzir, tecer noções de diferentes disciplinas, como o mestrado em arteterapia, da Paris V, do qual participei como professora. Mas a maioria das formações interdisciplinares em torno da arte emerge fora da universidade, como em escolas de arte, onde se revela um efervescente campo de debates tendo a arte como perspectiva educativa, sociológica e metodológica. Nesta situação, na Universidade Paris Descartes, fundamos, com Roberto Marcelo Falcón, o Grupo de Pesquisa em Educação Artística e Sociedade (GREAS), no Departamento de Sociologia, dirigido por Michel Maffesoli, para desenvolver pesquisas enraizadas na experiência coletiva, artística, baseadas no pensamento errático e interdisciplinar. O objetivo era construir um espaço que oferecesse uma abertura de pensamento, uma jornada entre diferentes visões de mundo, para encontrar vários caminhos comuns que reinventariam as formas de investigar. SP: Sensibilidade, criação e criatividade, formação de si são aspectos que você trabalha em seus textos, como você compreende estes aspectos na atual conjuntura de formação de professores de arte? Diante de uma educação geral que está em sintonia com as necessidades formativas das pessoas, que se apressam cada vez mais nos aspectos utilitários racionais do conhecimento e que omite totalmente a parte sensível da pessoa, me parece essencial continuar criando experiências que oxigenem a formação inicial, média e superior. Diria, inclusive, que na formação inicial a sensibilidade ainda é levada em conta, mas devido a uma herança judaico-cristã e ao Iluminismo, isso se desvanece durante todo o ensino médio e totalmente no superior para criar um adulto branco, sério e produtor. Talvez devêssemos prestar mais atenção nessas áreas, no ensino médio e superior, para não perdermos essa dimensão sensível e criativa dos processos de formação. Agora, apesar dessas questões que ressoam em certa formação docente, continuamos a abordar uma educação muito utilitarista, que considera apenas o conhecimento produtivo, aqueles que nos permitem ser reprodutores de um pensamento moderno. É um pouco nosso compromisso continuar a desobstruir os caminhos de formação para não continuar a educação sem a presença de pessoas. SP: Você participou, como conferencista convidada, da edição do ConFAEB 2013, em Porto de Galinhas/ Pernambuco. Naquele momento você enfatizava questões da arte e seu ensino pela visão modernista e pós-moderna, como percebe esse debate na atualidade? As pesquisas, as práticas e as teorias tem indicado um pensamento sensível, criativo e criador em sua opinião? Esta questão estaria em continuação à anterior, isto é, percebemos estes movimentos encarnados nas ações de professores capazes de recriar os modos de estar juntos e acompanhar os trajetos pessoais de cada um, o que denominei "mestres clandestinos". Eles aparecem discretamente mais e mais em todos os ambientes educativos. Se nos lembrarmos de que todas as efervescências sociais são primeiro secretas e discretas para serem finalmente visíveis, o mesmo acontece com professoras e professores que, a partir do cotidiano e do silêncio, nos ajudam a ser nós mesmos. Nós passamos esses últimos anos, de um estágio secreto para um discreto, quase visível, que impulsiona a transformação de espaços educativos. A comunidade ConFAEB é uma dessas potências ativas, convidando-nos e incentivando-nos a continuar nas vias desses caminhos que articulam diversas disciplinas, dimensões para favorecer a formação singular e coletiva, a partir das artes. Grupos de pesquisa e centros de estudos na França, inclinados a outras formas de pesquisas emergem sempre mais, desenvolvendo a pesquisa-criação ou pesquisa desde as artes, desdobrando o pensamento artístico como o eixo das formações, uma situação que caracteriza nossa atual pós-modernidade. Mas, apesar de tudo isso, vemos que as políticas educacionais são forjadas ainda mais no paradigma anterior, em uma educação baseada em um pensamento que nega o atual deslizamento da episteme do moderno para o pós-moderno. SP: Em novembro de 2017, professora/e (s) de diferentes universidades brasileiras, representantes da Federação Nacional de Arte/Educadores do Brasil (FAEB) participaram (na organização e palestras) do Simpósio Criação e criatividade: entre a formação e a pesquisa, como você avalia este evento e que esperar para o futuro? Foi importante imaginar e realizar este evento, porque devemos continuar gerando cruzamentos de perspectivas, de investigações de diferentes lugares que dão vida à formação dentro de uma episteme inteligente e sensível. Ficou evidente, neste I Colóquio, de 2017, a cumplicidade dos participantes e essa ressonância repercutiu no espaço de realização do encontro, impregnando o espaço de um conhecimento diferente, a partir de experiências encarnadas de potencias pessoais. As noções que escolhemos para este Colóquio: "criação e criatividade a partir da formação e pesquisa", buscava questionar, juntos, o lugar dessas dimensões em uma sociedade cada vez mais homogênea e assim, convidar a repensar, juntos, não apenas a formação e pesquisa, mas também a nossa cotidianidade. Neste, o pensamento artístico reinventa o modo de ser, estar, pensar e fazer juntos a partir do criativo em uma experiência total. É dessa aventura que propusemos o evento e para isso foi essencial compartilhar as práticas e pensamentos de diferentes horizontes, para recordar que é possível, além do território e dos sistemas políticos que tentam nos subjugar. Indubitavelmente, neste contexto bastante árido, é importante nos esforçarmos todos os dias para abrir vias mais sensíveis de pensamento e de formação a partir das artes e do afetivo. Precisamos nos encontrar e trocar desde nossas experiências artísticas coletivas, para nos dar força, inspiração e continuar nesses caminhos de forma renovada. O grupo do Brasil foi muito estimulante para os participantes nesse sentido, uma vez que oferece um conhecimento vivo que funciona a partir do sensível, ampliando as investigações de cada um. Tudo isso cria e favorece o surgimento de grupos emergentes e é certamente um caminho que podemos continuar seguindo na França, agora em Genebra e outras comunidades inspiradas por essas questões.
Diálogos INTERNACIONAIS
Por: Sidiney Peterson Diretor de Relações Internacionais da FAEB
Departamento de Didáticas da Arte e Movimento, Faculdade de Ciências da Educação, Universidade de Genebra.
Wolney Fernandes Professor no curso de Direção de Arte da Universidade Federal de Goias - UFG
VISUAL
ENSAIO
A descoberta do mundo Colagem analógica
Sou artista e professor, doutor em arte e cultura visual pela Universidade Federal de Goiás. Meu interesse transita pelas práticas de criação no fortalecimento dos processos e na mediação de experiências com desenho, colagem e estudos da imagem com destaque para os processos autorais e autobiográficos. Atualmente vivo e trabalho em Goiânia/GO com vínculo no curso de Direção de Arte da EMAC/UFG.
RELATO DE EXPERIÊNCIA Prof.ª Dr.ª Luciana Borre Nunes TRAMAÇÕES (2ª EDIÇÃO): CULTURA VISUAL, GÊNERO E SEXUALIDADES Vilipêndio Religioso e a Urgência das Questões de Gênero e Sexualidades na Formação de Professoras/es
Tramações (2ª edição) foi uma exposição coletiva que integrou uma série de ações voltadas à formação de professoras/es e estudantes de licenciaturas para os desafios da aproximação com a comunidade LGBTT. Foi parte do projeto de pesquisa “Tramas na formação de professoras/es para questões de gênero e sexualidades”, desenvolvida no curso de Artes Visuais da UFPE e Programa Associado de Pós-Graduação em Artes Visuais UFPE/UFPB. Também se configurou como um projeto de extensão fomentado pelo Edital de Apoio à Pesquisa em Criação Artística/Proexc/UFPE, edital de apoio às ações de extensão Pibexc/UFPE e pelo Fundo Pernambucano de Incentivo à Cultura. Em maio deste ano foi instaurado um cenário de censura oriundo de representantes políticos na Câmara dos vereadores de Recife, na Assembleia Legislativa de Pernambuco e pela nota de repúdio publicada pela Associação Nacional de Juristas Evangélicos (ANAJURE). Sabíamos de um possível rechaço e esperávamos que nossas versões de realidade não agradariam a todos. No entanto, o repúdio alcançou-nos com uma composição discursiva jurídica, atribuindo-lhe certo “tom de verdade”. Acusação: vilipêndio religioso. Vocabulário novo para o grupo de estudantes e, em poucas horas, vislumbramos o começo de um cenário de censura e instauração do medo. Segundo a nota de repúdio publicada pela Associação Nacional de Juristas Evangélicos (ANAJURE)[i], no dia 28 de maio de 2018, vilipendiamos publicamente a Bíblia Sagrada ao apresentar várias páginas rabiscadas e adulteradas; menosprezamos o Cristo Crucificado ao trazer memórias de violência no âmbito familiar; depreciamos a Virgem Maria ao colocá-la dividindo espaço com uma vela desgastada em formato de vagina; ofendemos Santo Antônio com a ousadia de trazer um pênis ereto ao seu lado e; afrontamos ou insultamos os rituais religiosos de agradecimento à cura de alguma doença ao expor imageticamente um ânus. Resultado: estudantes assustados diante de ameaças nas redes sociais, emissão de inúmeras notas de apoio e de esclarecimentos à comunidade acadêmica, apropriação de termos específicos e orientações jurídicas, busca de parcerias na defesa da liberdade de expressão artística e muitas aprendizagens nos processos de formação de professoras/es de Artes Visuais para questões de gênero e sexualidades. Tramações (2ª edição), acusada de vilipêndio religioso e repudiada na Câmara dos vereadores de Recife[ii] e na Assembleia Legislativa de Pernambuco[iii], foi uma exposição coletiva que integrou uma série de ações que objetivavam a formação de professoras/es e estudantes de licenciatura para os desafios culturais e educacionais para questões de gênero e sexualidades. Aconteceu em maio, junho e julho de 2018 na Galeria Capibaribe/Centro de Artes e Comunicação/UFPE e no Instituto de Arte Contemporânea/Benfica. Os objetivos específicos das ações de Tramações (2ª edição) foram: (1) Desenvolver ações de arte/educação para formação de professoras/es da educação básica e estudantes de licenciatura sobre questões de gênero e sexualidades; (2) Capacitar trinta professoras/es e estudantes de licenciaturas em artes visuais para questões de gênero e sexualidades; (3) Legitimar a produção de jovens artistas pernambucanos pertencentes à comunidade LGBTT - grupo culturalmente marginalizado; (4) Promover ações educativas para as/os visitantes da exposição; (5) Comunicar as ações e resultados do projeto em eventos científicos relacionados a Cultura Visual e às representações de gênero e sexualidades e (6) Debater sobre as formas de poder e movimentos sociais minoritários, os marcadores sociais da diferença: sexualidades, corpo, raça, etnia, religião e classe social, os estudos queer e poéticas pós-pornô. Vilipendiar ato ou objeto de culto religioso é um conceito controverso e que não se aplica quando um objeto, possivelmente ainda sem o “título” de sagrado, é ressignificado. Apresentar outros sentidos aos objetos e suas histórias, atribuindo novo significado às nossas relações com os mesmos são ações previstas pela Constituição, art.5º, IX, que diz que “é livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, independentemente de censura ou licença”. Além disso, as interpretações das poéticas expostas na Galeria Capibaribe evidenciaram o grau de complexidade em que nossas produções estavam inseridas. De fato, a arte tem cumprido o papel de provocar distintos olhares, desacomodar modos de pensar e perturbar conceitos consolidados. Os embates culturais oriundos da maior visibilização social e política da comunidade LGBTT (gays, lésbicas, bissexuais, travestis e transexuais) nas duas últimas décadas tem provocado fortes discussões no campo de formação de professoras/es. Tornou-se urgente discutir questões de gênero e sexualidade nos cursos de licenciaturas para que as/os educadoras/es possam contribuir com a promoção da igualdade de gênero, combate às discriminações e legitimação de vozes marginalizadas. A atuação profissional das/os professoras/es e das/os artistas representa um dos caminhos para que situações de violência contra as mulheres e/ou sujeitos não heteronormativos sejam superadas. O desenvolvimento deste projeto cultural alinhou-se a ideia de que professoras/es e estudantes em processo de formação profissional se tornarão agentes de posterior reflexão crítica sobre formas de poder, marcadores sociais da diferença e movimentos sociais minoritários. Destaca-se que as ações de curadoria, montagem, expografia e mediação cultural foram/são realizadas pelos estudantes durante formação pedagógica. As produções poéticas também foram produzidas pelos universitários a partir de narrativas pessoais. Ressalta-se que nenhuma das obras citadas pela nota de repúdio emitida pela Associação Nacional de Juristas Evangélicos – ANAJURE, no dia 28 de maio de 2018, trata de insulto, menosprezo, desprezo e/ou ultraje a atos, rituais ou objetos de culto religioso. Trata-se sim, de uma ressignificação de objetos oriundos das memórias, lembranças e registros subjetivos dos artistas envolvidos. Vale ressaltar que as poéticas mencionadas foram elaboradas por artistas que fazem parte da comunidade cristã e que professam discursos de fé. De fato, Tramações (2ª edição) buscou o confronto respeitoso de ideias, a desestabilização de verdades consolidadas e a provocação de olhares para a legitimação das diferenças ,sem desmerecer a imagem e/ou crenças de grupos religiosos. O repúdio à exposição oriundo de segmentos conservadores e religiosos é apenas uma demonstração de intolerância e cerceamento dos direitos de expressão que vem acontecendo no cenário nacional. Pode-se citar o caso do fechamento da exposição Queermuseu, no Santander Cultural de Porto Alegre (2017), bem como o cancelamento da peça “O Evangelho Segundo Jesus, rainha do Céu”, no Rio de Janeiro (2018). Sendo assim, o registro e a comunicação de tais acontecimentos também se tornam uma ferramenta política de denúncia e de fortalecimento das comunidades científicas que pensam a arte como caminho de provocação e criticidade. NOTAS [i] ANAJURE emitiu Nota de Repúdio à exposição “Tramações”, na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).https://www.anajure.org.br/anajure-emite-nota-de-repudio- a-exposicao-tramacoes-na-universidade-federal-de-pernambuco-ufpe/ Acesso em 28/05/2018. [ii] Vereadora Michele Collins critica exposição Tramações. https://www.youtube.com/watch?v=FcGWc--NYEw Acesso em 30/05/2018. [iii Pronunciamento do Dep. Pastor Cleiton Collins (PP) durante a 59ª Reunião Plenária da Assembleia Legislativa do Estado de Pernambuco. https://www.youtube.com/watch?v=jo4fla5ARHw&feature=share Acesso em 31/05/2018.
mural da faeb
Biblioteca Virtual da FAEB
O QUE É? Um repositório virtual de teses, dissertações, monografias, artigos, livros ou capítulos de livro. OBJETIVOS Este espaço tem dois objetivos: 1) divulgar a produção acadêmica de arte/educadores (docentes e discentes) vinculados à FAEB, cujas pesquisas tenham como foco questões do ensino/aprendizagem das linguagens da arte (música, artes visuais, teatro e dança) e suas relações inter e transdisciplinares; 2) expandir as atividades de pesquisa desenvolvidas por docentes, discentes e demais pesquisadores das linguagens da arte por meio da inserção de arquivos digitais na biblioteca FAEB:. REGULAMENTO GERAL Destina-se a pesquisadores associados à FAEB e que desenvolveram pesquisa nas linguagens da arte. Os trabalhos não precisam ser inéditos, pois se trata apenas de um acervo digital. Cada pessoa deverá informar a fonte da publicação original (no caso de artigos, livros e capítulos de livro) ou acervo (no caso de teses e dissertações). Para enviar os arquivos é necessário o formato PDF . MODALIDADES Serão aceitos os trabalhos nas seguintes modalidades: tese, dissertação, monografia, livro, capítulos de livro e artigo, com até 50 Megabytes. Após o envio do arquivo, será emitido um e-mail de confirmação do seu recebimento. Para tirar dúvidas, escreva para: bibliotecafaeb@gmail.com
Diásporas dos jogos Teatrais 40 anos - Dossiê Buscamos diálogos Multiplos, deslocamentos, amálgamas, críticas e dispersões pelos quais passam os jogos teatrais. O convite é para o diálogo reflexivo: Como o sistema de jogos teatrais vem sendo experimentado na realidade cultural brasileira? Ingrid Dormien Koudela, Robson Corrêa de Camargo e Karine Ramaldes. Interessados em participar envie email para: jogosteatrais40anos@gmail.com
6º Encontro de Arte/Educação de Ouro Preto 12 e 13 de agosto de 2018 6ª edição do Encontro terá como proposta temática a discussão “A Arte/Educação em Tempos de Cólera” procurando enfocar pesquisadores, metodologias, temáticas e procedimentos contemporâneos desenvolvidos no âmbito de instituições múltiplas de ensino e cultura que dialoguem com a ideia da cultura popular, ações comunitárias, o ambiente escolar por dentro e por fora, promovendo olhares múltiplos, dialógicos e poéticos realizados em Ouro Preto e para além da cidade-patrimônio. Num cenário atual de grandes discussões, rupturas, transformações e imposições políticas e debate das questões sociais, discutir o lugar da Arte na Educação em seus múltiplos contextos é resistir e fazer prevalecer este diálogo necessário entre 2 áreas tão importantes para a construção do país que vez por outra vem sofrendo tentativas de desconstrução. Local: Auditório São João Del Rey - Centro de Artes e Convenções da Universidade Federal de Ouro Preto - Minas Gerais Leia mais aqui.
Semana de Gestão e Políticas Culturais 20 a 24 de agosto, 2018. Local: Auditório Martina Piazza, 3º andar. Av. Tarquínio Joslin dos Santos, 1000, Jardim Universitário, Foz do Iguaçu-PR. Leia mais aqui.
46º Festival de cinema de Gramado 16 a 25 de Agosto,2018 Registrando crescimento de público nas sessões noturnas do Palácio dos Festivais, o Festival de Cinema de Gramado encerra sua edição comemorativa de 45 anos já com data marcada para sua próxima realização. Com quatro mostras competitivas – longas brasileiros e estrangeiros e curtas brasileiros e gaúchos – o Festival de Cinema de Gramado celebra os talentos da cinematografia nacional e latina também através de homenagens como os troféus Oscarito, Eduardo Abelin, Kikito de Cristal e Cidade de Gramado. Leia mais aqui.
Encontro Nacional da ANFOPE As politicas educacionais de formação de professores no contexto brasileiro atual A ANFOPE convida professores e alunos de todos os niveis de ensino para participarem do evento que tratará sobbre as políticas educacionais de formação docente, enfocando a BNCC do Ensino Médio, a residência Pedagógica, o PIBID e o novo PARFOR. 21 de Julho, 2018. 9 horas Local: Auditório da CCSE ( Centro de Ciências Sociais e Educação da UEPA)- Travessa Djalma Dutra, s/n- Telégrafo, Belém.
Lançamento do Livro Os Jogos Teatrais de Viola Spolin: Uma pedagogia da Experiência Autores: Karine Ramaldes e Robson Corrêa de Camargo 23 a 27 de julho, 2018 Local: VI Congresso Internacional SESC de Arte/ Educação, Recife, PE Leia mais aqui.
III Encontro Nacional de Professores de Arte dos Institutos Federais O III ENPAIF com o tema "Da Base Nacional Curricular Comum à realidade da Arte nos Institutos Federais" visa aprofundar-se nos atuais debates da BNCC e seus efeitos nas ações de pesquisa, extensão e ensino da Rede Federal de Educação Profissional. 06 e 07 de Setembro, 2018 Local:Centro de Convenções Ulysses Guimarães , Brasília - Distrito Federal Leia mais aqui.
II Seminário da Região Norte: Educação, Arte e Intercultura 13 a 15 de setembro, 2018 Local: Manaus- AM Leia mais aqui.
II Seminário Nacional do Ensino Médio Integrado A realização do II Seminário Nacional do Ensino Médio Integrado visa refletir sobre os principais desafios teóricos e metodológicos apresentados à realidade escolar a partir das recentes transformações ocorridas na legislação educacional brasileira. 07 de Agosto, 2018 Local: Centro de Convenções Ulysses Guimarães, Brasília -DF Leia mais aqui.
2º Seminário de Arte e Educação: práticas, espaços e tempos em transformação - UFAC O 2º Seminário Arte e Educação: práticas, espaços e tempos em transformação coloca em discussão as práticas, tempos e espaços, pensados a partir dos PCN’s e da BNCC. O evento será promovido juntamente com a Secretaria do Estado de Educação, que incluirá o mesmo em sua semana de formação pedagógica. 01 a 03 de Setembro, 2018 Local: Universidade Federal do Acre - UFAC ,Rio Branco - AC Leia mais aqui.
ficha técnica
Vice Presidente: Ana Paula Abrahamian de Souza – UFRPE/PE Diretoria de Relações Institucionais: Verônica Devens Costa – SEME-PMV/ES Diretoria de Articulação Política: Fabiana Souto Lima Vidal – UFPE/PE Diretoria Financeira: Luzirene do Rego Leite – SEEDF/FADM Diretoria de Relações Internacionais: Sidiney Peterson Ferreira de Lima
Prof.ª Dr.ª Leda Guimarães Presidente da FAEB EDITORES Prof. Dr. Alexandre Guimarães Instituto Federal de Goiás - IFG Prof.ª Dr.ª Eliane Aparecida Andreoli Faculdade Anhanguera de Taboão da Serra - SP Prof.ª Ma. Rosa Amélia Barbosa Instituto Federal do Paraná - IFPR Prof. Me. Sidiney Peterson Ferreira de Lima Universidade do Estado de São Paulo - UNESP Projeto gráfico Alexandre Guimarães Editoração eletrônica Bárbara Stela Oliveira Revisão de texto Camila Alves O conteúdo pode ser reproduzido, desde que sua fonte seja citada. Para contribuições e sugestões, escrever para: boletim.faeb@gmail.com